Na contramarcha da insensatez, um caminho para mudar o PT
"O pensamento racional claramente aconselhava os troianos a suspeitarem de um ardil quando acordaram verificando que todo o exército grego desaparecera, deixando apenas estranho e monstruoso prodígio à frente das muralhas da cidade. O procedimento racional deveria ter sido, ao menos, examinar o cavalo em busca de inimigos, tal como foram veementemente aconselhados por Cápis o Velho, Laocoonte e Cassandra. Essa alternativa esteve presente e bem viável, mas foi posta de lado em favor da autodestruição".
Barbara Tuchman, A marcha da insensatez.
Em A marcha da insensatez, a historiadora norte-americana Bárbara Tuchman estuda o paradoxo que leva governos, políticos e dirigentes a produzirem políticas contraproducentes, que contrariam seus próprios interesses e objetivos estratégicos.
Num percurso que cobre o período da história de 850 a.C. aos anos 1970 do século 20, Tuchman analisa quatro acontecimentos históricos para corroborar sua tese – guerra de Tróia, cisão da Igreja Católica na Idade Média, independência dos EUA e guerra do Vietnã.
A insensatez – ou loucura política, como ela define – é um fenômeno que não somente leva a resultados contrários aos desejados pelos líderes, mas conduz a erros e derrotas estrondosas.
A autora qualifica insensatez como a incapacidade [1] de se entender corretamente a realidade no momento concreto em que se vive ela [e não retroativamente, como fazem os profetas de eventos passados], e [2] de se encontrar, no tempo real dos acontecimentos, as alternativas viáveis à realidade adversa.
À luz do critério de Tuchman, a resolução do diretório nacional do PT que autoriza a aliança com os golpistas na eleição das presidências da Câmara e do Senado para assegurar espaço institucional [que já é garantido pela Constituição!], é sintoma da insensatez – da loucura política – que domina a direção do Partido.
. Independentemente do espaço que o PT ocupe no Congresso, a mesma maioria golpista que perpetrou o golpe com a fraude do impeachment da Presidente Dilma dará continuidade à agenda legislativa do ajuste ultra-neoliberal, dos retrocessos sociais e da alienação da soberania nacional.
Mesmo ocupando a vice-presidência e a quarta secretaria do Senado, por exemplo, o PT não conseguiu impedir a tramitação e aprovação do impeachment fraudulento e das inúmeras medidas anti-populares e anti-nacionais propostas pelo governo golpista.
As reformas trabalhista e previdenciária, que revogam conquistas civilizatórias e fazem o Brasil retroagir ao período da escravidão nas relações de trabalho, serão votadas com o PT ocupando – ou não – espaços no Congresso. Somente a ampla pressão popular será capaz de deter este e outros ataques contra a classe trabalhadora e a maioria do povo brasileiro.
As bancadas de deputados e senadores do PT não podem seguir a insensatez da maioria dirigente. Isso abriria uma fissura profunda na relação com a base social, com a militância partidária e com a resistência democrática e popular que está nas ruas, nas praças, nas escolas e nos botecos; resistência essa que não transige e não aceita a conciliação com golpistas fascistas.
O processo do golpe, a dinâmica da luta de classes e o massacre criminoso do condomínio jurídico-midiático-policial evidenciaram a falência e os limites da direção do PT, que esteve aquém das complexas exigências do período.
É enorme a expectativa de que o PT mude, se renove e atualize suas políticas e estratégias para continuar sendo uma esperança transformadora e de emancipação do povo subalterno. Para mudar, porém, o PT tem de andar na contramarcha da insensatez e não reprisar os mesmos erros que o levaram a este que é o pior momento da sua existência – "a política fundada em erros multiplica-se, jamais regride" [Tuchman].
Na visão da autora da Marcha da insensatez, "a paralisação mental ou estagnação – a manutenção intacta pelos governantes e estrategistas políticos das idéias com que começaram – é terreno fértil para a insensatez. Montezuma se constitui em exemplo fatal e trágico". Vale lembrar: Montezuma, imperador asteca, cometeu a insensatez de confiar ingenuamente no colonizador-dominador espanhol Hernán Cortés; ingenuidade que deu início ao fim do impressionante império asteca.
APOIO:
Perfeita sua análise. Já foi bem absurdo o episódio onde o Senador Jorge Viana do PT, se declarou incapaz para assumir a Presidência do Senado e frustrou a esperança de milhões de brasileiros, mostrando estar mais do lado de lá do que de cá.
ResponderExcluirA análise não foi minha, mas achei muito interessante por isso resolvi colocar no blog. Concordo com essa posição e também não compactuo com esse mal exemplo que essa banda podre do PT...#PorUmNovoPT
Excluir